As nuvens se
espalham pelo céu, encobrindo seu azul, lançando suas cores melancólicas sobre
a Terra. Dizem que dias de chuva trazem tristeza, que tornam as coisas menos
alegres.
Não acho.
Olho pela janela e,
em seu reflexo inclinado, vejo gotas que parecem disparar em direção ao
infinito, acelerando gravitacionalmente rumo ao horizonte.
Observo a chuva que
cai, fraca como uma garoa levada pelo vento, invadindo marquises e guarda
chuvas, ou então forte, torrencial, precipitando-se intensamente ao
desfazerem-se das soluções saturadas que são as nuvens de chuva. Às vezes o
decantamento ocorre de forma mais brusca, mais fria, e então as gotas
congelam-se em projéteis da natureza que rumam certeiros para seus alvos na
terra, ganhando do ar em sua descida desenfreada.
Há beleza em um dia
de chuva, mas apenas aqueles que quiserem ver conseguirão.
Tal beleza só é
vista, pela maioria, depois, nas flores que crescem, nas árvores que dão frutos,
nos rios que correm e cachoeiras que se formam, ou então no arco íris quando o
Sol aparece. Para que nasçam todas essas coisas, precisou haver um dia de
chuva.
Há beleza no poder
da natureza com sua força transformadora, às vezes destruidora, mas, para a
transformação, é necessário que haja a destruição. Isso se chama evolução.
Sim, eu aprecio a
chuva, a beleza da chuva, a sensação de tomar um banho a céu aberto, de beijar
sob o céu que desaba, de correr de braços estendidos sentindo as gotas
encharcarem meu corpo, suas agulhadas frias na pele, lavando minha alma.
Aprecio o toque
gélido e molhado, o arrepio causado, o prazer destilado, a sede que é morta, a
vida que renasce.
Sim, um dia de
chuva também faz felicidade.
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