Autor: Paul Hoffman
Editora: Suma de Letras
Páginas: 327
Skoob: Livro
"Preste atenção. O
Santuário dos Redentores no Penhasco de Shotover deve seu nome a uma grande
mentira, pois há pouca redenção naquele lugar e ele tampouco serve de refúgio
divino".
É com esse alerta que o
inglês Paul Hoffman começa A Mão Esquerda de Deus, um livro sombrio e cheio de
mistério. Estréia do autor no romance aventura, a obra vem sendo divulgada no
exterior como um "novo Harry Potter", muito embora o autor não
recorra a elementos sobrenaturais nem raças não-humanas em sua narrativa.
O cenário da trama é
desolador. Habitado por meninos que foram levados para lá muito novos e
geralmente contra a sua vontade, o Santuário dos Redentores é uma mistura de
prisão, monastério e campo de treinamento militar. Lá, esses milhares de
garotos são submetidos a uma sádica preparação para lutar contra hereges que
vivem nas redondezas. A intenção dos Lordes Opressores, os monges que protegem
o lugar, é fortalecer os internos tanto física quanto emocionalmente,
preparando-os para uma monstruosa guerra entre o bem e o mal.
Entre os jovens está
Thomas Cale. Não se sabe ao certo se ele tem 14 ou 15 anos ou como foi parar
ali. O que se sabe é que Thomas tem uma capacidade incomum de matar pessoas e
organizar estratégias de combate. Essas poderosas habilidades serão colocadas à
prova quando ele e dois amigos testemunham um brutal assassinato entre os
corredores labirínticos da prisão. A visão do crime dá início a uma perseguição
desesperadora e, finalmente fora dos muros do monastério, Cale irá compreender
a extensão da crueldade dos lordes e a verdadeira origem de seu poder.
Um livro que, à primeira vista, já chama
atenção por diferentes aspectos. Sua capa é bem trabalhada, sombria. Um homem
encapuzado com uma espada na mão sob o título “A Mão Esquerda de Deus” só pode
sugerir, no mínimo, uma história de uma ação mais “macabra”, com certa maldade.
Na cultura humana, o “esquerdo” sempre foi visto como o errado, o mal, o que
vai contra a ordem e coisas assim. Os maiores homens de um rei são suas mãos
direitas, não as esquerdas. As palavras “A Mão Esquerda” já nos induzem a
pensar que esta mão está longe do que diríamos ser certo, ético, justo ou até
mesmo bom. E Cale, a personagem principal da história, muitas vezes se encaixa
nesse conceito.
A ideia geral da série é boa, criativa e
original. No início, pensa-se que o mundo é uma coisa, para, um pouco depois,
perceber-se que ele bem maior que aquilo. Nas primeiras páginas, o autor nos faz
pensar que o mundo inteiro é dominado pelos Redentores e está em uma guerra
mundial contra os Antagonistas, mas depois vemos que não é isso, que a guerra
não é tão grande assim e o mundo é muito maior.
Eu, quando percebi isso, desencantei um
pouco. Talvez a trama seja mais bem trabalhada do que foi expresso neste
primeiro livro, mas, por enquanto, não parece.
Ao contrário de personagens de outros
livros, como Eragon e Herdeiros da Luz, onde vemos as personagens aprendendo
tudo, ou O Senhor dos Anéis, onde Frodo não faz o tipo clássico de herói,
Thomas Cale já começa, no livro, sendo um perfeito e cruel assassino.
Porém, como os outros, ainda e jovem e
apresenta seus dilemas, não sendo assim tão desprovido de emoção como tentaram
fazer dele. Por mais que o instinto de sobrevivência fale alto, ele não
abandona seus amigos quando precisaram dele.
Duas coisas, porém, me incomodaram
substancialmente na história.
Uma delas é o romance dele com uma “princesa”.
Nada contra o amor entre um plebeu e uma pessoa da corte, o problema foi como
tudo aconteceu: rápido demais. Em um momento, ela o repudiava, no outro,
estavam perdidamente apaixonados deitados nus em uma cama. Acho que faltou
desenvolver um pouco mais esse relacionamento.
Outra coisa, e essa coisa me incomodou
muito mais, foi a guerra que aconteceu.
Hoffman conseguiu estabelecer uma
estratégia de deslocamento de exércitos muito boa, mas, quando a batalha
realmente aconteceu, pecou demais.
Geralmente os melhores e mais bem treinados
exércitos são também os mais disciplinados, mas ele conseguiu aliar excelência
com indisciplina, e, num exército, essas duas coisas não se encaixam.
Segundo que o general que comandou o
exército, por mais que não seja o “principal”, comportou-se como uma criança
jogando “War”.
É simplesmente impossível, em todo e
qualquer sentido, que a guerra acontecesse da forma como aconteceu. Impossível.
Números, por mais que não sejam o mais importante, são definitivos quando a
proporção é de quarenta mil contra dois mil. É simplesmente impossível os dois
mil ganharem dos quarenta mil quando todos os envolvidos são simples humanos
sem nenhuma habilidade especial. Acredito que ele também precisa rever o
conceito de vantagem num campo de batalha. Em um campo de batalha direto,
exército contra exército, não faz diferença você esperar o oponente chegar até
você ou avançar para ele se você não tiver alguma armadilha pronta e,
definitivamente, ficar observando enquanto oponente põe em prática uma
estratégia bem na frente do seu exército, não é a melhor atitude a se tomar.
Num conceito geral, dando uma nota de um a
cinco, eu o classificaria com três. O texto é bem trabalhado e as personagens
bem definidas, ainda que em alguns casos algumas pareçam ter mais de uma
personalidade, mas não de uma forma proposital.
Um livro bom de se ler, envolvente, mas
espero que a continuação faça-o valer mais à pena.
0 comentários:
Postar um comentário