“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que
cativas”
Antoine de
Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe
Para aquele que analisar esta frase ao invés de
apenas lê-la, entenderá tudo o que o autor quis passar com ela e, se já tiver
vivido o suficiente (ou melhor, vivido as experiências necessárias), entenderá
perfeita e completamente o sentido dela.
Amei e fui amado. Amo e sou amado. Duas únicas
condições possíveis para o amor, mas, a primeira, na verdade, ainda apresenta
um erro de entendimento para aquele que lê. Na verdade apenas uma condição
existe para o amor:
Amar e ser
amado.
Aquele que diz que amou e não foi correspondido, não
amou. Imaginou, pensou, até sentiu que amou, mas, na verdade, não foi amor de
verdade. Não foi por que o amor não pode ser sentido sozinho, não é um
sentimento de um só. Um antônimo perfeito para o amor é o egoísmo, que pensa em
si e é sentido por si. O amor não pode ser assim. O amor pensa primeiro no
outro, e depois no outro outro e por assim vai, até chegar, finalmente, por
último, em nós, em mim, naquele que ama.
O amor pode é não ser valorizado. Sim, isso o amor realmente pode. O amor pode ser
sentido por duas pessoas, e então ser desprezado por uma delas. Esse é o
verdadeiro caso do amor não correspondido.
Ter a certeza da condição necessária para a
existência de um amor não correspondido só torna ainda mais doloroso vivê-lo.
O amor é muitas coisas, também é idealizado de
muitas formas, mas uma coisa que, com confiança, posso afirmar sobre o amor, é
que ele é aprendizado. E, talvez, o
amor não correspondido seja o maior doutrinador de todos. Se não, um dos
maiores.
O amor não correspondido dói, machuca, faz sofrer,
abre feridas que não se fecham nem mesmo com o tempo, entristece, nos coloca
para baixo, nos faz ter vontade de desistir da vida.
Falo com ganho de causa, pois vivi por pelo menos
cinco anos um amor não correspondido. E, pela experiência vivida, afirmo: o tempo não cura tudo.
O tempo pode fazer com que as bordas da ferida
cicatrizem, mas nunca conseguirá fazer com que o ferimento se feche, nunca
preencherá o buraco aberto em nosso peito. O tempo não pode curar um amor não correspondido.
Muito menos quando se tem a certeza de que o sentimento existe no outro, só não
quer ser vivido. Percebo que sempre tive essa certeza, mas só agora vejo que a
tinha.
“Tu
te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”
Um grande problema das pessoas é não conhecer,
entender ou levar a sério esta frase. Ela devia ser uma verdade universal,
ensinada em todas as escolas, presente em todos os lares, ensinada em todas as
religiões. Devia ser regra geral para a convivência humana, pois muitas das
dores causadas e sentidas são pelo não conhecimento/ entendimento dela, por
ignorá-la, por não dar valor ao que ela diz. Mais ainda: por não dar valor
àqueles que cativamos.
Já cativei e não cuidei, então fiz sofrer e sofri. Já
fui cativado e não cuidaram de mim, então sofri muito mais.
Quanto tempo precisa ser gasto para que alguém nos
cative, para cativarmos alguém? Pouco ou muito, eternos segundos ou meio
milésimo. O tempo não é algo relevante quando estamos falando de amor.
Quando alguém nos cativa, roubamos um pedaço dele
para nós, um pedaço da sua alma, e então tiramos um nosso e encaixamos o da
pessoa no lugar. Quando o pedaço da nossa alma é aceito de volta, então há a
correspondência do amor, a aceitação de que também se foi cativado por aquele
que cativamos. Mas há aqueles que se fecham para o nosso pedaço de alma, que
não deixam que ele preencha o espaço da parte que passou para nós, que oferece
aquele espaço para outro, que se esforça para preenchê-lo com nova parte de sua
própria alma. E então sofremos.
Sofremos, pois há um pedaço em nós que não é “nosso”,
que faz parte de outro alguém, mas que estará eternamente conosco, pois se
tornou parte do nosso ser. Sofremos por que um pedaço dos mais íntimos da nossa
alma está perdido em algum lugar que nem mesmo nós sabemos onde é, pois não foi
aceito, foi desprezado. Ele fica rondando a pessoa que nos cativou, ligada a
ela, sim, mas ignorado, excluído.
Por muito tempo esse pedaço de mim me fez sofrer.
Hoje, porém, estou “curado”, e não foi o tempo quem
fez isso. Foi o amor.
A melhor cura para o amor é o próprio amor. Apenas ele
pode preencher o vazio do nosso peito, da nossa alma. Apenas um novo amor pode
nos fazer esquecer a dor do primeiro. Não esquecer o primeiro, pois amor de
verdade nunca acaba, apenas se transforma.
Não sinto mais dor quando penso naquele amor. Não,
pois aprendi muita, muita coisa com ele, que transformou irreversivelmente a
minha vida, fez surgir oportunidades que, talvez, nunca aparecessem se eu não passasse
pelo que passei. Hoje, chego a ser grato pelo que passei por esse amor.
Por isso, nunca tenha medo de amar. Amar, sim, é
sofrer, mas não amar é sofrer mais ainda.
(texto inspirado
no livro “Minha Terra do Nunca”, de Thiago Tristão)
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