14 de dezembro de 2010

Um pesadelo quase real


Eu estava deitado na minha cama de barriga para cima, olhando o teto sem ver nada, pensando.
A madrugada já ia avançada e nada de eu conseguir dormir. O rosto dela invadia minha visão a todo instante, como se estivesse mesmo lá, eu sentia seu perfume no ar, o cheiro de sua pele misturado ao suor...
Mas não era só isso que estava me tirando o sono. Geralmente eu não demorava muito a dormir, apenas em algumas raras ocasiões. Essa era uma delas.
Estava tudo muito bem entre nós. Eu estava pensando nela apenas porque esse agora era o pensamento mais constante na minha mente todas as vezes que ela começava a cair na ociosidade (e até mesmo em momentos de atenção).
Alguma coisa estava errada era com o lugar ao meu redor. Não apenas minha cama ou meu quarto. Eu sentia como se algo estivesse para acontecer. Meu coração batia acelerado no peito e eu comecei a suar frio. Estava com medo. Só não sabia do que.
De repente eu senti um leve tremor, quase imperceptível. Me concentrei nisso, tentando captar alguma outra coisa. Será que eu tinha imaginado? Não, eu tinha certeza que havia sentido algo. A confirmação veio logo em seguida. Mais um tremor, dessa vez um tanto mais intenso e prolongado. Sentei na cama, olhando sem entender ao redor. Cara, eu moro no Brasil, São Paulo, não era para ter terremotos aqui.
Terremoto. Ficar em um prédio não era legal em uma situação dessas.
Foi aí que tudo começou a tremer assustadoramente. Meu corpo vibrava e os meus livros começaram a cair da prateleira da cama. Saí dela rapidamente e abri a janela do quarto.
As árvores tremiam muito e eu vi quando uma rachadura apareceu no muro do prédio. Ouvi movimentos dentro do apartamento mas não me virei para olhar. Algo atraía muito mais a minha atenção do lado de fora.
Uma rachadura gigantesca apareceu no morro que ficava a uns duzentos metros do meu prédio. O terreno começou a afundar, casas foram caindo e caindo, se despedaçando. Pessoas gritavam, saiam correndo de suas casas, iluminadas fantasmagoricamente por uma luz que emanava de baixo. Outras pessoas começaram a sair de suas casas fora do morro observando horrorizadas a cena, ouvindo aturdidas os gritos das pessoas que tentavam fugir.
E então não havia mais casas no alto, apenas uma cratera enorme que brilhava lugubremente.
Mais um terremoto. Dessa vez pareceu uma explosão.
O barulho foi ensurdecedor. Tudo chacoalhou intensamente e uma rachadura apareceu no teto do meu quarto, derrubando poeira em cima de mim.
Junto com a explosão, veio o fogo.
Rochas incandescentes voaram para todos os lado, cuspidas violentamente da boca do vulcão. Sim, aquilo era um vulcão.
Cinzas subiram alto no céu junto com uma grossa camada de fumaça. Enquanto isso, a lava transbordava no topo e escorria rapidamente para baixo, se acumulando nas ruas e caminhando em direção à mim, tomando tudo que via pela frente, derretendo carros, matando pessoas paralisadas de horror.
Então o caos se instalou.
Gritos ecoavam por toda parte, pessoas de pijama corriam pelas ruas, levando pelas mãos os filhos, esposas, cachorros, tudo o que precisava ser salvo.
Percebi que os gritos também estavam dentro de casa. Minha mãe e meu irmão se trocavam rapidamente e gritavam para eu fazer o mesmo. Em um minuto eu estava de jeans, camiseta e tênis. Peguei a coleira do cachorro enquanto eles pegavam os gatos e saímos para a rua.
Outras rachaduras haviam aparecido em outros pontos e a lava vazava por todas elas, tomando o bairro com grande velocidade.
Vi pessoas morrendo na minha frente, tentando saltar por cima de rios de lava. Tudo era terror e caos, gritos e pavor. Só uma coisa me apavorava naquele momento. Ela.
O vulcão havia aparecido perto de sua casa. Eu tinha que ir até lá, eu precisava encontrá-la, me certificar que estava bem, que estava viva.
O pânico começou a me dominar. Ela não podia morrer, eu não podia deixar que alguma coisa acontecesse à ela. Eu não sabia o que fazer, a lava já tinha tomado as partes mais baixas e era por lá que eu precisava passar para chegar até ela. Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto enquanto meu coração martelava no peito, meu corpo inundado de um suor frio de puro medo, não por mim, mas pela minha vida, pela razão dela, que não habitava o meu corpo, e sim o dela.
Eu estava paralisado olhando toda aquela destruição. Sentir o ar começar a falta, uma certeza terrível preenchendo meu corpo.
Senti um forte baque e inspirei profundamente, sentindo meu corpo quente e suado.
Me virei na cama e olhei para o teto intacto do meu quarto. Meu coração batia muito rápido ainda, mas o medo foi cedendo depressa. Estava tudo bem, ela estava bem. Fora só um pesadelo.
Peguei meu celular e anotei o ocorrido para me lembrar depois, deitei de bruços e adormeci em seguida.

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