Estou com vontade de fugir do mundo. Queria
poder correr e correr sem nunca me cansar, correr rápido o suficiente para
desaparecer com os quilômetros rapidamente, vencê-los com suavidade,
embrenhar-me no mundo calmo e suave das grandes matas do mundo, passar por lagos,
riachos, cachoeiras, e ainda assim continuar correndo, me afastando de tudo,
até finalmente chegar no lugar, algum lugar que não sei qual, mas um lugar
específico onde eu pudesse apenas esquecer de quase tudo e ficar, ficar e ficar
por tempos indeterminados o suficiente para que tudo em volta mudasse, para que
o mundo esquecesse da minha existência e eu esquecesse da existência do mundo.
Queria que esse lugar tivesse apenas uma
cabana de madeira no meio de uma grande clareira com uma grama curta em volta,
as árvores a rodearem tudo com sua tranquilidade e silêncio. Também haveria um
riacho por perto, um riacho com sua nascente que brotasse das entranhas da
terra, límpida, cristalina e muito fria, descendo por entre as pedras lisas,
produzindo seu som suave e melodioso que acalma os corações.
Eu percorreria o curso do riacho por horas
e horas, andando por dentro dele, pisando nas pedras secas e molhadas do
caminho, deixando a água banhar os meus pés, equilibrando-me, correndo, andando
mais devagar, saltando de um ponto ao outro, respirando o ar frio e úmido da
mata fechada, sentindo a suave brisa que soprasse do alto, passando por entre
as folhas e galhos que filtram a luz solar, emanando uma luminosidade verde,
calmante.
Em certo ponto desse riacho eu encontraria
uma cachoeira. Eu estaria no alto dela, as grandes rochas descendo altivas com
o pequeno curso d’água a lhes cortar a superfície, moldando-as a seu bel prazer
através do tempo. De lá de cima, talvez dez metros acima do nível do riacho que
continuava embaixo, eu olharia para tudo ao redor, sentindo a energia pulsando
dentro de mim e, ao olhar para baixo, veria que, na base da cachoeira, o riacho
se transformava em uma lagoa totalmente translúcida com vários metros de
profundidade.
Com um sorriso no rosto, eu respiraria
fundo e me atiraria no ar, sentindo as correntes a passar velozes por mim
enquanto eu acelerava cada vez mais, chegando cada vez mais perto da superfície
agitada da lagoa.
Finalmente, eu romperia a água, afundando
vários e vários metros, deixando a água gélida me envolver por completo,
ficando submerso por todo o tempo que meus pulmões me permitissem, para então
subir à tona e nadar calmamente para a borda da lagoa.
Escalaria a cachoeira até
um pequeno pedaço seco de rocha onde a luz do Sol incidisse diretamente e lá
deitaria, deixando que o calor evaporasse a água do meu corpo, fechando os
olhos e relaxando, sentindo-me finalmente no meu lugar, enquanto, na minha
mente, apenas um pensamento ocupasse-a por inteiro
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