Eu corria. Não era uma corrida
desesperada, nem atrás de alguma coisa ou fugindo de alguém. Eu corria porque
tinha ficado com vontade de correr, apenas isso. Na verdade, talvez eu corresse
porque queria chegar mais rápido também.
As ruas de terra estavam desertas.
Já passava muito da meia noite. Talvez fosse mesmo perto do dia amanhecer, mas
eu não sabia.
Meus passos ritmados marcavam o
tempo da minha respiração. O coração retumbava com força no peito, mas eu não
ia parar até chegar lá em cima.
A terra se transformou em grama,
passei por uma pequena ponte e meus pés percorreram um caminho não muito largo
que era a divisão de dois lagos daquele lugar. Alguns metros à frente, o
caminho se bifurcava. Para a direita, eu apenas daria a volta no maior lago.
Para a esquerda, a trilha subia íngreme por entre as árvores, um caminho largo
o suficiente para um carro passar.
Fui direto para a esquerda.
Meus pés encontraram o caminho por
entre o chão destruído pelas correntezas de água que desciam quando chovia.
Saltei buracos e valas daquele caminho tão meu conhecido e amigo, ainda que
nunca o tivesse percorrido sozinho àquela hora da madrugada. Não havia
importância, pois a lua brilhava forte no céu, cheia, e iluminava perfeitamente
o caminho para mim.
Corri sem parar, o suor escorrendo
pelo meu corpo enquanto meus pés venciam com certa facilidade a trilha bastante
inclinada.
As árvores desapareceram e surgiu
uma escada à direita. Corri por ela, até que finalmente cheguei ao topo.
Um forte vento frio me atingiu,
refrescando meu corpo suado. Arranquei a minha camiseta e deixei-a cair no
chão.
Eu estava em um “quadrado”. O chão
era de mármore bruto com pequenas cercas de pedra ao redor, deixando duas
entradas, uma pela qual cheguei ali e outra logo em frente. Do meu lado
esquerdo, uma cruz de mármore erguia-se imponente e, mais à frente dela, uma
pequena capela oval com não mais que um metro e oitenta de altura, da mesma
rocha, com pequenas imagens de santos e velas derretidas dentro.
Ainda sentindo o suor a escorrer
pelas minhas costas, dei dois passos rápidos e saltei em cima da cerca de
concreto, emendando um outro salto, apoiando as mãos na capela para poder
chegar em cima dela.
Ergui-me, altivo, sentindo-me
completamente livre, no teto da capela, os olhos fechados, o rosto erguido para
o céu.
A lua estava atrás de mim,
iluminando as minhas costas, lançando a minha sombra vários metros à frente,
banhando todo aquele lugar com sua luz azulada que parecia mais intensa do que
o normal, naquela noite.
Baixei a cabeça e abri os olhos,
deixando-os percorrer as silhuetas dos morros que cercavam aquele lugar.
Girei o corpo e dei um passo no
ar, deixando-me cair para depois amortecer a queda suavemente.
Sem ligar para insetos ou qualquer
outro bicho, peguei a minha camiseta, embolei-a toda e deitei no chão, usando-a
como travesseiro, e me pus a olhar o céu intensamente estrelado. Ali eu estava
mais longe das luzes que ofuscavam as estrelas, por isso podia vê-las melhor.
Respirei fundo, deixando o ar frio
tirar um pouco do calor de dentro do meu corpo.
Deixei os olhos vagarem pela
grande reunião de estrelas que estava por todos os lados, deixando mais espaços
preenchidos por seus pontos azuis do que espaços vazios e negros.
O que eu estava fazendo ali? Bem,
tinha ido apenas para observar as estrelas, mas queria ver um “tipo”
específico, e logo pude vê-lo.
A primeira estrela cadente riscou
o céu e, menos de meio segundo depois de aparecer, tornou a sumir. Sorri e fiz
um pedido, para depois voltar a me concentrar no céu inteiro e também em apenas
um pedaço dele.
Não faço ideia de quanto tempo
fiquei lá, mas os riscos brilhantes foram tantos que perdi a conta de quantos
havia visto. Só sei que me levantei para ir embora quando vi que as estrelas
voltavam a perder força, sendo escondidas pela luminosidade que já nascia no
leste. Olhei ao redor uma ultima vez, vendo a escuridão desaparecer, até que
virei as costas e corri de volta pelo caminho que tinha me levado até ali.
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