10 de novembro de 2011

Os riscos e as estrelas



Eu corria. Não era uma corrida desesperada, nem atrás de alguma coisa ou fugindo de alguém. Eu corria porque tinha ficado com vontade de correr, apenas isso. Na verdade, talvez eu corresse porque queria chegar mais rápido também.
As ruas de terra estavam desertas. Já passava muito da meia noite. Talvez fosse mesmo perto do dia amanhecer, mas eu não sabia.
Meus passos ritmados marcavam o tempo da minha respiração. O coração retumbava com força no peito, mas eu não ia parar até chegar lá em cima.
A terra se transformou em grama, passei por uma pequena ponte e meus pés percorreram um caminho não muito largo que era a divisão de dois lagos daquele lugar. Alguns metros à frente, o caminho se bifurcava. Para a direita, eu apenas daria a volta no maior lago. Para a esquerda, a trilha subia íngreme por entre as árvores, um caminho largo o suficiente para um carro passar.
Fui direto para a esquerda.
Meus pés encontraram o caminho por entre o chão destruído pelas correntezas de água que desciam quando chovia. Saltei buracos e valas daquele caminho tão meu conhecido e amigo, ainda que nunca o tivesse percorrido sozinho àquela hora da madrugada. Não havia importância, pois a lua brilhava forte no céu, cheia, e iluminava perfeitamente o caminho para mim.
Corri sem parar, o suor escorrendo pelo meu corpo enquanto meus pés venciam com certa facilidade a trilha bastante inclinada.
As árvores desapareceram e surgiu uma escada à direita. Corri por ela, até que finalmente cheguei ao topo.
Um forte vento frio me atingiu, refrescando meu corpo suado. Arranquei a minha camiseta e deixei-a cair no chão.
Eu estava em um “quadrado”. O chão era de mármore bruto com pequenas cercas de pedra ao redor, deixando duas entradas, uma pela qual cheguei ali e outra logo em frente. Do meu lado esquerdo, uma cruz de mármore erguia-se imponente e, mais à frente dela, uma pequena capela oval com não mais que um metro e oitenta de altura, da mesma rocha, com pequenas imagens de santos e velas derretidas dentro.
Ainda sentindo o suor a escorrer pelas minhas costas, dei dois passos rápidos e saltei em cima da cerca de concreto, emendando um outro salto, apoiando as mãos na capela para poder chegar em cima dela.
Ergui-me, altivo, sentindo-me completamente livre, no teto da capela, os olhos fechados, o rosto erguido para o céu.
A lua estava atrás de mim, iluminando as minhas costas, lançando a minha sombra vários metros à frente, banhando todo aquele lugar com sua luz azulada que parecia mais intensa do que o normal, naquela noite.
Baixei a cabeça e abri os olhos, deixando-os percorrer as silhuetas dos morros que cercavam aquele lugar.
Girei o corpo e dei um passo no ar, deixando-me cair para depois amortecer a queda suavemente.
Sem ligar para insetos ou qualquer outro bicho, peguei a minha camiseta, embolei-a toda e deitei no chão, usando-a como travesseiro, e me pus a olhar o céu intensamente estrelado. Ali eu estava mais longe das luzes que ofuscavam as estrelas, por isso podia vê-las melhor.
Respirei fundo, deixando o ar frio tirar um pouco do calor de dentro do meu corpo.
Deixei os olhos vagarem pela grande reunião de estrelas que estava por todos os lados, deixando mais espaços preenchidos por seus pontos azuis do que espaços vazios e negros.
O que eu estava fazendo ali? Bem, tinha ido apenas para observar as estrelas, mas queria ver um “tipo” específico, e logo pude vê-lo.
A primeira estrela cadente riscou o céu e, menos de meio segundo depois de aparecer, tornou a sumir. Sorri e fiz um pedido, para depois voltar a me concentrar no céu inteiro e também em apenas um pedaço dele.
Não faço ideia de quanto tempo fiquei lá, mas os riscos brilhantes foram tantos que perdi a conta de quantos havia visto. Só sei que me levantei para ir embora quando vi que as estrelas voltavam a perder força, sendo escondidas pela luminosidade que já nascia no leste. Olhei ao redor uma ultima vez, vendo a escuridão desaparecer, até que virei as costas e corri de volta pelo caminho que tinha me levado até ali.

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