15 de novembro de 2011

Fermatas temporais: Da semibreve à semifusa



O tempo. Grande problema da humanidade. Vivemos em função do tempo, mas o ruim são aqueles que vivem para o tempo. Não devemos ser escravos dele, mas usá-lo da melhor forma possível. Afinal, há um pensamento muito conhecido sobre: O tempo, quando passa, não tem mais volta. Se foi, e não podemos mais mudar o que fizemos (ou deixamos de fazer) com ele.

Às vezes, como diz uma música da Pitty, “quero uma fermata que possa fazer, agora, o tempo me obedecer”.

Ah, em quantos momentos eu não quis que o tempo simplesmente tivesse parado! Que surgisse uma pausa de quatro tempos que se perpetuasse continuamente pela partitura dos momentos, repetindo-se eternamente por uma barra de repetição que nunca permitisse que o próximo compasso chegasse.

Mas eu não posso. Ninguém pode. O compasso tanto desejado pode sim se repetir, mas uma hora ou outra ele simplesmente ficará para trás quando formos obrigados a compor diretamente em nossos instrumentos a próxima parte da música da nossa vida. As pessoas dizem que a nossa vida é um livro que vamos escrevendo conforme vivemos, mas acho que, ao mesmo tempo em que escrevemos palavras, compomos também uma partitura. Afinal, por mais que as palavras possam expressar muitas coisas, nunca conseguirão expressar toda a intensidade que uma melodia é capaz de exteriorizar.

Porém, podemos controlar os compassos, tempos, alturas, pausas e repetições da nossa partitura. Podemos, sim, colocar uma fermata em determinado ponto para que aquela nota perpetue-se por muito tempo, às vezes até “para sempre”, enquanto continuamos tocando e compondo a nossa música, fazendo com que ambas as notas vibrem juntas, ou então se destoem. Depende apenas de nós, na verdade.

Alguns momentos, muitos dos quais queríamos que durassem para sempre, passam-se com a velocidade de semifusas. Aqueles que queríamos que voassem, são tão longos quanto dez compassos de semibreves. Essa, porém, é uma forma errada de compormos nossa partitura. Afinal, o tempo é nosso, e o usamos da forma que quisermos, escrevemos as notas que quisermos escrever. Se eu quiser que um bom momento se passe com semibreves, farei com que passe sim, e também criarei uma segunda linha de partitura para que ele continue tocando em acompanhamento da principal. Eu posso fazer isso. Afinal, a música é minha.

E eu penso também: qual o instrumento que rege a minha vida?

Porque, é claro, não tocamos apenas um único instrumento durante toda nossa música. Em certos momentos, se criarmos as várias linhas de compassos que podemos criar, as segundas, terceiras, quartas e quantas outras vozes nossa vontade permitir, podemos tocar com mais de um instrumento ao mesmo tempo, podemos criar uma orquestra para a nossa vida.

Já toquei com contrabaixos em seus tons mais graves, semibreves seguidas de semibreves, às vezes com pausas longas de tristeza. Já resolvi inovar e coloquei uma guitarra para sonorizar as notas que compunha, proliferando semicolcheias, fusas e semifusas, subindo alto nos tons, mas percebi que os extremos nunca são os melhores pontos para se tocar. É claro que algumas notas mais lentas e outras mais rápidas não fazem mal a ninguém, mas devemos manter as nossas vidas nas velocidades das mínimas e semínimas a fim de não acabar arrebentando algumas cordas dos nossos instrumentos.

Hoje, levo a minha vida em um violino. Toco grave, às vezes, mas não tanto, usando a corda Sol para dar mais intensidade para alguns momentos. Em algumas ocasiões me empolgo e subo aos mais altos tons que a corda Mi pode me levar. Na maioria do tempo, uso as cordas Lá e Ré para reger a minha vida. Mas o que quero, na verdade, e estou trabalhando para isso, é manter as notas fluindo também na segunda voz que já escrevi algumas vezes, segunda voz essa que toca neste momento, nestes momentos, acrescentando toda a suavidade que consigo compor através das teclas do piano que escolhi para reger esta parte da minha partitura.

Porque um piano?

Porque o piano é um instrumento que, quando encontrado os tons e tempos harmoniosos, pode ser tocado também a quatro mãos.

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