O tempo. Grande
problema da humanidade. Vivemos em função do tempo, mas o ruim são aqueles que
vivem para o tempo. Não devemos ser escravos dele, mas usá-lo da melhor forma
possível. Afinal, há um pensamento muito conhecido sobre: O tempo, quando
passa, não tem mais volta. Se foi, e não podemos mais mudar o que fizemos (ou
deixamos de fazer) com ele.
Às vezes, como diz
uma música da Pitty, “quero uma fermata que possa fazer, agora, o tempo me
obedecer”.
Ah, em quantos
momentos eu não quis que o tempo simplesmente tivesse parado! Que surgisse uma
pausa de quatro tempos que se perpetuasse continuamente pela partitura dos
momentos, repetindo-se eternamente por uma barra de repetição que nunca
permitisse que o próximo compasso chegasse.
Mas eu não posso.
Ninguém pode. O compasso tanto desejado pode sim se repetir, mas uma hora ou
outra ele simplesmente ficará para trás quando formos obrigados a compor diretamente
em nossos instrumentos a próxima parte da música da nossa vida. As pessoas
dizem que a nossa vida é um livro que vamos escrevendo conforme vivemos, mas
acho que, ao mesmo tempo em que escrevemos palavras, compomos também uma
partitura. Afinal, por mais que as palavras possam expressar muitas coisas,
nunca conseguirão expressar toda a intensidade que uma melodia é capaz de
exteriorizar.
Porém, podemos
controlar os compassos, tempos, alturas, pausas e repetições da nossa partitura.
Podemos, sim, colocar uma fermata em determinado ponto para que aquela nota
perpetue-se por muito tempo, às vezes até “para sempre”, enquanto continuamos
tocando e compondo a nossa música, fazendo com que ambas as notas vibrem
juntas, ou então se destoem. Depende apenas de nós, na verdade.
Alguns momentos,
muitos dos quais queríamos que durassem para sempre, passam-se com a velocidade
de semifusas. Aqueles que queríamos que voassem, são tão longos quanto dez
compassos de semibreves. Essa, porém, é uma forma errada de compormos nossa
partitura. Afinal, o tempo é nosso, e o usamos da forma que quisermos,
escrevemos as notas que quisermos escrever. Se eu quiser que um bom momento se
passe com semibreves, farei com que passe sim, e também criarei uma segunda
linha de partitura para que ele continue tocando em acompanhamento da
principal. Eu posso fazer isso. Afinal, a música é minha.
E eu penso também:
qual o instrumento que rege a minha vida?
Porque, é claro,
não tocamos apenas um único instrumento durante toda nossa música. Em certos
momentos, se criarmos as várias linhas de compassos que podemos criar, as
segundas, terceiras, quartas e quantas outras vozes nossa vontade permitir,
podemos tocar com mais de um instrumento ao mesmo tempo, podemos criar uma orquestra
para a nossa vida.
Já toquei com
contrabaixos em seus tons mais graves, semibreves seguidas de semibreves, às vezes
com pausas longas de tristeza. Já resolvi inovar e coloquei uma guitarra para
sonorizar as notas que compunha, proliferando semicolcheias, fusas e semifusas,
subindo alto nos tons, mas percebi que os extremos nunca são os melhores pontos
para se tocar. É claro que algumas notas mais lentas e outras mais rápidas não
fazem mal a ninguém, mas devemos manter as nossas vidas nas velocidades das mínimas
e semínimas a fim de não acabar arrebentando algumas cordas dos nossos
instrumentos.
Hoje, levo a minha
vida em um violino. Toco grave, às vezes, mas não tanto, usando a corda Sol
para dar mais intensidade para alguns momentos. Em algumas ocasiões me empolgo
e subo aos mais altos tons que a corda Mi pode me levar. Na maioria do tempo,
uso as cordas Lá e Ré para reger a minha vida. Mas o que quero, na verdade, e
estou trabalhando para isso, é manter as notas fluindo também na segunda voz
que já escrevi algumas vezes, segunda voz essa que toca neste momento, nestes
momentos, acrescentando toda a suavidade que consigo compor através das teclas
do piano que escolhi para reger esta parte da minha partitura.
Porque um piano?
Porque o piano é um
instrumento que, quando encontrado os tons e tempos harmoniosos, pode ser
tocado também a quatro mãos.
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