Há quanto tempo eu não simplesmente sentava
confortavelmente e tentava focar minha mente para que ela inventasse, criasse,
combinasse, imaginasse, descobrisse as milhares e infinitas combinações dos
símbolos inventados para que pudéssemos expressar aquilo que pensamos,
sentimos, vemos, ouvimos, criamos, inventamos...
Palavras são apenas letras amontoadas que,
por alguma razão e força de um poder maior, amontoaram-se em uma forma ou sequência
onde é possível entender algum significado, mas apenas porque esse significado
um dia foi inventado por alguém para que tal palavra pudesse, então, expressar
a ideia antes imaginada.
Resumindo, vivemos em um mundo imaginário.
Um dia alguém imaginou as palavras,
querendo expressar aquilo que se passava na cabeça dele, expressar a imaginação
que se desdobrava por trás dos olhos, dentro da mente. Sem saber, foi o
precursor das letras, mas elas só foram imaginadas mais tarde, talvez, quando alguém
resolveu criá-las, porque queria poder formar as palavras que já nasciam em sua
mente, para, então, colocá-las em um registro além do som disforme e ainda
torto que saía pela boca, para que outras pessoas pudessem vê-las e então
entendê-las. Assim, essa pessoas que imaginou as letras e então as palavras, também
imaginou a escrita.
Ou talvez foram muitas pessoas, mas isso
não é o que realmente importa.
Depois que as palavras pensadas, as letras
e as palavras escritas haviam sido inventadas, coisas começaram a ganhar nomes.
Primeiro vieram aquelas coisas que já existiam, e depois, quando outras coisas
foram sendo criadas, novas palavras foram sendo imaginadas.
Um dia, por exemplo, alguém inventou a
roda. Quando ela foi criada, porém, não possuía nome. A pessoa não parou e
pensou: “Ei, vou inventar a roda agora, espere só um pouco”. Não, ela inventou,
aí outra pessoa ou ela mesma inventou a palavra pela qual chamariam aquele novo
invento, e então nasceu a roda.
Assim foi acontecendo com tudo o que
inventamos e criamos. Após as primeiras invenções que nos tiraram da época dos
grunhidos, gestos e gemidos, que foram as letras e palavras, desdobraram-se
infinitas possibilidades de invenções e nomes. Vieram o carro, avião, tesoura,
colher, copo, espelho, n coisas de
todos os variados tipos de funcionalidade e objetivo.
Uma coisa que, talvez, as pessoas que
criaram as palavras não imaginaram, é que criaram também uma alma para elas, e
essa alma vai se dividindo e se multiplicando conforme novas palavras vão sendo
inventadas. O que é essa alma? Oras, é o que a palavra realmente é, significa! Um
avião não é o que a palavra o limita, afinal, existem centenas de nomes para aviões.
Se eu falar, avião, você pensará em um, se for plane, também (desde que você
saiba o significado, é claro. Se não souber, é porque ainda não conhece o
pedaço de alma desta palavra). Posso chamá-lo de aereo, na Itália, e todos
entenderão, ou de fly na Dinamarca e vou ser compreendido.
Cada palavra em cada idioma tem uma pequena
alma que nos faz identificar ao que ela significa assim que ouvimos a palavra,
mas todas elas fazem parte de outra alma maior, em um conceito totalmente
panteísta, que é a alma do próprio objeto. Não importa se eu chamá-lo de avião,
plane, fly ou aereo, aquela coisa de metal com asas e que voa sempre será uma
coisa de metal com asas e que voa (e às vezes cai também).
Talvez seja esse o segredo dos grandes
escritores, tradutores, poetas, pintores, escultores e todos aqueles que criam
a arte, expressam as palavras, objetos, rimam e coordenam as criações
imaginárias para que elas façam parte, peguem sua parte, da alma das coisas que
imaginamos e criamos. Tais artistas conhecem as almas das palavras e tudo o
mais, podendo expressá-las de diversas formas, com palavras, desenhos, formas
diferentes, e, ainda assim, aquele que ver, ler, admirar o que foi imaginado,
conseguirá ligar tal criação à imaginação primordial da criação do objeto mãe.
É, vivemos em um mundo imaginário, mesmo.
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