Em um prédio do Citi Bank na Av. Paulista, há uma área reservada para exposições artísticas, acredito que voltada apenas para a arte das esculturas e talvez também de quadros e pinturas.
A exposição que está lá agora (não vou me
lembrar o nome), é de um japonês (o qual também não lembro o nome) e é voltada
para esculturas com cubos, espelhos e cores e também há uma parte interativa e,
por causa desta parte, ele criou um “slogan” ou apenas uma frase para seu
trabalho.
“E assim nasce o interespectador, o
espectador que interage”.
Pra mim, é um pouco de prepotência ele
imaginar que foi ele quem criou isso.
Acredito que o motivo de ele ter afirmado
tal coisa foi pelo fato de ter feito uma parte da exposição onde você escolhe “valores”
que você tem e é, e a partir deles uma imagem se forma (não consegui ver um
único sentido na imagem que se formou da minha “personalidade”, e olha que meu
cérebro adora brisar).
Mas quem disse que para interagirmos com
algo, precisamos tocar nesse algo, ajudar na criação?
Nós interagimos com exatamente TUDO o que
está à nossa volta, inclusive com aquelas esculturas e relíquias e quadros que
estão na Pinacoteca do Estado e no Museu do Ipiranga aqui em São Paulo e onde
há sempre grandes (ou apenas chamativos) avisos de “não toque!” (ou proibido
tocar, não encoste, tanto faz a variação das palavras imaginadas que expressam
o fato de não podemos nem relar na referida obra de arte).
Para uma interação existir, não é
necessário que aja contato físico entre duas coisas, objetos ou qualquer outra
coisa. Afinal, dois imãs precisam se tocar para influenciar um ao outro? Você precisa
ver a pessoa que ama para sentir amor por ela? Você precisa tocar em uma pessoa
para passar uma mensagem a ela?
Não, não precisa.
As interações entre coisas, pessoas, entre
obra e espectador, vão muito além do contato físico. Tal contato é apenas uma
delas, e talvez nem mesmo a mais intensa. Se você toca um quadro de olhos
fechados, nunca vai conseguir absorver a mensagem que o pintor quis te passar.
Agora mesmo, por exemplo, você está interagindo
com as minhas palavras, pois, enquanto as lê, seu cérebro imagina coisas, faz
suposições, pensa e analisa o que está sendo lido, se pergunta se eu tenho
algum problema ou sou apenas estranho (talvez essas últimas aconteçam se você já
tiver lido alguns dos meus outros textos, como o “A brisa exemplificada” ou “Divagações
de um Jovem Insone”).
Quando você vê uma pintura ou escultura,
analisa os traços e curvas, cores e volumes, tenta entender o que realmente
significa aquilo e, talvez, indo mais longe, o que o artista quis dizer,
passar, ao pintar/ fazer tal obra.
Não há um instante sequer onde não interagimos
com algo ou alguém, isso sem contar as interações do nosso corpo com o ambiente
também, além das outras coisas e pessoas. Interagimos física, intelectual ou
emocionalmente com tudo, não importa o que seja, pois nossa mente nunca deixa
de trabalhar, e se nós vimos/ sentimos/ cheiramos/ tocamos/ nos emocionamos/ sentimos
o gosto/ ouvimos algo, nossa mente capta e processa, analisa e, assim, mesmo
que a interação não saia de dentro das nossas cabeças ou corpos, nós
interagimos com aquilo que foi captado pelos nossos sentidos, seja apenas
ignorando, ou então nos excitando, alegrando, entristecendo, sentindo fome,
desejo, vontade de comer, pena, medo ou todas as outras infinitas coisas que
podemos sentir quando interagimos com algo.
E há outro detalhe que os mais observadores
podem perceber. O artista da exposição do banco, fala sobre o interespectador
na arte, e muitas coisas que eu disse aqui não são arte.
Mas quem disse que não são?
Uma comida, por exemplo, é a arte gastronômica
de um cozinheiro, uma bela mulher, é a arte escultural de Deus (ou então de uma
clínica de estética), as palavras ditas pelas pessoas nas ruas, são as artes
(ainda que rudimentares, algumas vezes [ou várias]) de suas próprias mentes, e
assim por diante.
Então, meu caro amigo japonês, me desculpe,
mas não foi você quem criou o interespectador.
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