17 de janeiro de 2012

Uma balada de primavera – Sétima parte - A terceira Sinfonia


Por vezes as lágrimas ainda escorriam do rosto do maestro e ameaçavam cair sobre as cordas do violino da esperança. Uma ou outra vez, seu arco falhou na umidade, mas ele não parou de tocar.

A chuva caía mais e mais forte, até que ele se viu isolado no palco. Não enxergava seus amigos nas cadeiras, não ouvia som algum que não fosse o trovejar dos raios e o duro som da torrente de água que caía do céu. Era como se todos os oceanos estivessem sendo derramados em cima dele. A causa daquela chuva, como tudo naquele teatro, era os sentimentos dos dois, e a maestrina estava lá, distante, entregando-se à dor, sofrendo e chorando e, assim, fazendo chover no teatro.

A água fria encharcava o maestro até os ossos e mais além. Chegava ao seu espírito e, em certo momento, ele estremeceu. Um estremecimento do fundo da alma. Quando isso aconteceu, uma corda do violino se rompeu. O desespero ameaçou tomar o coração do maestro, mas ele não parou de tocar.

Por fim, suas pernas perderam sua força e ele caiu de joelhos. Ainda assim, ainda se podia ouvir o som de sua música, triste, lamuriosa, desesperada.

Não mais ouvia ou até mesmo sentia a maestrina. Sentia, sim, é que estava morrendo. Morrendo por se entregar ao desespero, por se entregar à dor, por imaginar que nunca mais poderia sentir o toque suave de sua amada, ouvir sua voz doce, beijar sua boca, abraçar seu corpo.

Mas de que adianta desistir? De que adianta se entregar? Deixar de lutar significa morrer em sentimento. Persistir na batalha significa que ainda há esperança, por mínima que ela seja.

À distância, a maestrina permanecia presa por grilhões que poderiam ser mais fortes que ela. Ou então poderiam se romper se ambos unissem suas forças contra os elos.

Um joelho se ergueu e um pé encontrou novamente o chão. O maestro fez força, tentando se levantar sem deixar de tocar. As notas falharam e escorregaram pelo palco, desritmadas. As forças de suas pernas se recusavam a voltar, mas ele se esforçou, suou debaixo de toda aquela chuva, mas a água que caía era forte, muito forte, como enormes tsunamis vindos diretamente de todos os céus com o único objetivo de mantê-lo no chão.

Ele permaneceu ali lutando e se esforçando ao máximo, sem cair mais, mas sem conseguir nenhum progresso. Foi quando ele sentiu o toque.

Seu coração saltou no peito, reassumindo momentaneamente um ritmo mais forte ao imaginar que poderia ser a bela maestrina. Mas não, ele sabia, conhecia seu toque, e aquelas não eram as suas mãos. Aqueles eram seus amigos.

Eles o ergueram do chão e o mantiveram em pé. Lágrimas escorreram pelo seu rosto ao olhar aqueles rostos que só queriam o seu bem. Um deles trazia uma nova corda para substituir a que tinha se rompido. Ele colocou-a e voltou a tocar, amparado por eles, que agora eram a força que lhe faltava. E assim a música continuou. Não perdia-se mais tão completamente em meio ao rugido da chuva, mas também não ia tão longe assim.

Os sentimentos dentro dele se agitaram, mas ainda não eram capazes de produzir sons. Podiam, porém, abrandar aquela tempestade.

Em pouco tempo, a enorme torrente transformava-se em pouco mais que uma garoa, sem vento ou raios, calma.

A Terceira Sinfonia dos Campos de Pinheiros foi marcada e sempre será lembrada pela grande tristeza de suas notas, pela suavidade de seus sons quase apagados, pelas lágrimas que desperta em qualquer um que a ouça com o coração. Será marcada pela morte da esperança e, depois, pelo renascimento desta.

1 comentários:

Rafael S. Pereira disse...

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Abraços!

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