Um aperto de
agonia. Uma pequena dor nas profundezas do meu peito. Uma grande dor dentro do
meu coração. Parece pequena, pois a mente esforça-se em seu extremo para que
assim pareça.
Coração agoniado,
nervoso, tenso, temeroso. Assim pulsa o órgão que mantém viva a esperança de
viver.
Uma explicação
para a origem desses sentimentos: este coração que aqui vos fala
desacostumou-se a bater sozinho.
Não. Impossibilitou-se
de bater sozinho.
Seu ritmo não
mais é mantido através de sua própria vontade ou essência. Hoje ele é um
coração dividido. Melhor. Um coração compartilhado.
Por um ano e sete
dias, seu ritmo manteve-se compassado, ritmado, deslizando por linhas suaves,
lentas, agudas, tensas, graves, rápidas. Sempre acompanhado de outro bater de
mesmo tom, apenas em uma oitava diferente. Juntos, compuseram uma orquestra.
Uma orquestra que começou a tocar sua música em meio a um pequeno campo de pinheiros.
Uma orquestra que começou a tocar sua música em meio a um pequeno campo de pinheiros.
Uma orquestra de
apenas dois instrumentos?
Não. Os corações
foram os maestros. Eles conduziram a sinfonia. Os instrumentos foram diversos. Os
nomes? Sentimentos.
Um ano e sete
dias tocados por intensos sentimentos. Alguns de corda, outros de sopro, outros
ainda de percussão e por aí vai. Em cada classe, ainda outra variedade de
variações. Contrabaixos e violinos, clarinetes e trombones, bumbos e pratos.
E então, no
oitavo dia, tudo isso era uma orquestra desfeita. Nenhum instrumento tocava
mais. O som era apenas um:
O Silêncio.
Igualmente à
intensidade com que era ouvido, ele era sentido.
Uma falta de
alguma coisa. Uma falta de tudo.
Os corações,
maestros tão dedicados, estavam destroçados. Metaforicamente falando, era como
se, a um, faltasse um átrio, e no outro, dois ventrículos tivessem sido
destruídos. Àquele primeiro, o sangue não jorrava mais pelas artérias, mas
derramava-se por todo o corpo.
De toda aquela
sinfonia, sobraram-se apenas os ecos.
Lembranças.
O som dos
violinos caminhava lentamente pela mente de ambos, pois os corações não
conseguiam nem mesmo mais lembrar, mergulhados na dor das partes que perderam
e, ainda assim, não podiam simplesmente deitar e deixar de bater.
Um instrumento,
por sua vez, não podia mais ser ouvido. Nem de uma forma real e nem mesmo nos
ecos retumbantes das notas que teimavam em não se dispersar dentro do anfiteatro
um dia lotado, agora, abandonado, como se tivesse sido deixado às pressas por
causa de uma catástrofe iminente. Catástrofe que talvez chegasse a acontecer. No
exato instante que todas as notas cessassem, toda a estrutura construída a partir
delas finalmente ruiria, enfim enterrando para sempre aquele instrumento
imóvel, abandonado com suas dezenas de cordas à mostra, um banco para dois à
sua frente, como se ainda esperasse a volta dos músicos, a volta de seu maestro
e maestrina.
Nos ecos
remanescentes das batidas ritmadas, o piano não podia ser ouvido.
As vibrações dos
outros instrumentos chegavam até ali, filhas dos pensamentos sofridos que ainda
se mantinham atrelados àquela casa de espetáculo onde, antes, uma das mais
belas e fantásticas sinfonias da Terra tinha sido criada aos poucos, para
depois adquirir sua própria vida, regendo-se por si mesma.
Mas os
pensamentos não podiam fazer soarem novamente as cordas do piano, não podiam
fazer as teclas e pedais serem acionados, não podiam produzir som algum daquele
instrumento. Não podiam, pois aquele piano havia sido feito para ser tocado a
quatro mãos e apenas assim.
Dessa forma, o
piano soou em seu canto, esquecido, silencioso, por um tempo que pareceu
aterradoramente interminável.
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