7 de janeiro de 2012

Uma balada de primavera – Quarta parte - O outono da esperança


Foi assim que o outono começou. Breve outono.

Um pulsar de intensa dor despertou o maestro de seu túmulo de neve. Junto com a dor, veio o amor. Mais uma vez eles sentiu-se inundado por aquele tão grandioso amor que havia construído sua saudosa casa de espetáculos.

Sim, a dor era inundada de imensa saudade.

A mente se encolheu ante a força do coração e, vendo que não era páreo para aquele tão intenso sentimento, recuou cada vez mais, então cedeu. Sim, ela sabia, aquela era a lógica do sentimento, a razão da emoção, e ela estava muito mais certa do que a mente. Era a única certa.

Sem pensar em procurar uma saída para a tumba de seu coração, o maestro se lançou para a neve acima dele, cravando suas unhas nela, arrancando grandes pedaços de cada vez.

Ele foi subindo e subindo. Pelo caminho, deixava um rastro de sangue de suas mãos que se machucavam na neve dura e cruel. O maestro não se importava. A dor era a consequência da sua escolha. Ele precisava senti-la.

Enfim, emergiu em um grande deserto frio. A tempestade caía forte, impedindo-o de descobrir para que direção ficava seu teatro.

O desespero começou a tomá-lo, lágrimas rolaram por suas faces, quentes, derretendo as gotas úmidas de gelo que se fixavam em sua pele. Num pânico súbito, ele gritou com a mente, voz e coração, o nome de sua tão amada maestrina.

Ao contrário do que se pensa, o som não foi abafado pela cortina de neve. Não. Na verdade, ele a desfez.

O som de seu grito foi tão estrondoso que abalou a tempestade, que recuou, temerosa diante de tamanha intensidade de dor e sentimento. Os últimos flocos caíram flutuando para o chão.

Logo a sua frente, a quilômetros de distância, o maestro viu a silhueta coberta de neve de sua casa de espetáculos. Ele podia pensar em diversos nomes para ela: Campo de Pinheiros, Vale da Lua, Planície do Sol, Estrela Vespertina ou qualquer outro que envolvesse qualquer uma dessas coisas, mas um único nome nunca poderia abarcar toda a significância que tinha aquele lugar, toda a sua verdadeira essência. Aquele teatro era um lugar onde o Sol, a Lua e as Estrelas se encontravam em harmonia, onde cada um deles representava um pedaço, mas nunca a totalidade, pois ela era tão infinita quanto o universo, ou talvez até mais.

E então ele correu. O maestro correu e correu, gritando o nome de sua amada, chamando por ela, clamando por seu perdão. Ele correu até que suas pernas não podiam mais se mover, e então ele foi ao chão.

A neve derretia por todos os lados, relevando pequenas imperfeições no terreno. Ele havia tropeçado em uma pedra escondida.

As pesadas nuvens do céu se desfaziam lentamente, mas o Sol ainda estava oculto, assim como a Lua e as Estrelas. No teatro, porém, a neve ainda continuava intacta.

Lágrimas rolaram pelo rosto do maestro quando sua esperança ameaçou vacilar. Será que estava tudo perdido? Será que ele tinha jogado fora a chance de ser feliz.

Muito ao longe, tão baixo que ninguém escutou, ouviu-se uma voz. Na realidade, ninguém poderia escutar aquele chamado, mas ele o ouviu. Levantou a cabeça, o coração desritmado em disparada.

Sim, ele reconheceria aquela voz em qualquer lugar, no meio de um furacão. Era a voz da maestrina.

Ele não podia vê-la, mas sabia que estava ali, em algum lugar, além dos limites do teatro. Ele então se levantou e correu, correu ainda mais, cada vez mais. O teatro chegava cada vez mais perto. Suas enormes portas estavam abertas para ele, pois um sentimento tocava mais uma vez dentro do teatro, um único sentimento, forte, porém ainda solitário, ecoando suas notas lugubremente pela estrutura sobrecarregada de dor e tristeza.

Adentrou o complexo com extrema ansiedade, vasculhando-o inteiro em busca de sua amada.

No palco, um solitário violino meio enferrujado fazia suas notas ressoarem pelo ambiente. Ele estava sozinho ali. Mas não completamente. Sentia, em seu íntimo, a presença da maestrina. Ela estava longe, mas presente em pensamento. Ele chorou e pediu perdão ao sentir a dor dela. Chorou muito, principalmente com o coração e, enfim, ela o perdoou.

Estava voltando para ele.

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