8 de janeiro de 2012

Uma balada de primavera – Quinta parte - A grande velocidade das estações


E assim, o outono da esperança desfez o grande inverno de sentimentos.

O maestro se pôs a trabalhar.

Sozinho, pegou uma pá e começou a retirar toda a neve que se acumulara dentro do teatro. Ali, para que o Sol, a Lua e as Estrelas chegassem novamente, o trabalho teria que ser muito duro e realizado apenas por eles, maestro e maestrina. Como esta ainda estava longe, mas chegando, ele se esforçou ao máximo para que tudo estivesse bem melhor quando ela chegasse.

Toneladas de neve se desfizeram sob o esforço do dedicado maestro. Mais uma vez, ele sentia-se completo, ou completando-se, com um rumo em sua vida, com esperança, com vontade de viver, de ser feliz, com a certeza de que seria feliz, com entusiasmo para novamente compor suas músicas de declarações.

Após terminar a limpeza do palco, tomou nas mãos outro violino e se pôs a acompanhar aquele que tocava a esperança. Suas notas foram fortes, com vida, animadas, e ecoaram ainda mais longe com toda a intensidade que possuíam. Aos poucos, pequenos espectadores voltaram a escutar a melodia.

Ele tocou e tocou, incessantemente, por horas, dias a fio, até que seus dedos sangrassem nas cordas, mas nem assim ele parou. As gotas caíram de suas mãos e tocaram os locais do palco que haviam sido manchados pelas lágrimas da maestrina. Como em um toque de mágica, as manchas desapareceram por completo, tornando o palco impecável novamente.

Sua música começou a despertar os outros instrumentos, que sacudiram a poeira e a ferrugem de seus corpos e cordas, recuperando lentamente o seu brilho. Testaram algumas notas, afinaram-se e, timidamente tentaram começar a tocar, a acompanhar o maestro que não mais usava uma batuta para comandá-los, mas o arco de seu violino.

As notas da esperança ganharam cada vez mais força e, juntos, os instrumentos derreteram e evaporaram a neve que ocupava o resto do teatro. Os lugares para o público voltavam a ficar disponíveis, a neve do teto se desfazia lentamente enquanto as nuvens do céu se afinavam e o Sol novamente conseguia voltar a banhar com sua luz a imponente estrutura que começava a recuperar o antigo brilho refulgente.

As pessoas começaram a entrar para ouvir a música, a se acomodar em seus lugares. Alguns pontos ainda estavam tomados pela neve, mas já havia lugares suficientes para um bom público.

Estes entraram vagarosos, meio tímidos, desconfiados, mas não podiam deixar-se não contagiar com a felicidade exprimida pelo maestro com seu violino. Ele não apenas tocava, mas dançava e cantava, sorria, pulava, descia do palco e regia seus instrumentos do meio da plateia, que começou a acompanhá-lo.

Alguns tinham seus próprios instrumentos e logo entraram na melodia da segunda Sinfonia dos Campos de Pinheiros, o segundo ato, o próximo volume de tão magnífica série. Assim, os sentimentos dos espectadores fundiram-se pela primeira vez com os instrumentos do maestro e da maestrina. Uma nova música se fazia ouvir no grandioso teatro de muitos nomes.

As pessoas chegavam cada vez mais, de vários lugares, felizes por poderem novamente ouvir aquela belíssima música. Ela era intensa, fulgurante, apaixonante, viva, pura alegria. Era aquilo que queriam que nunca tivesse acabado, aquela alegria feroz que exalava dos olhos do maestro.

A música, eles sabiam, é claro, ainda não estava completa. Faltava a maestrina, mas ela estava a caminho.

Sua voz chegava até lá, cantando liricamente para acompanhar o seu amado em sua felicidade. Todos estavam felizes novamente, cantando e dançando. Os assentos não eram mais necessários, ninguém os estava usando. Estavam todos em pé, cada um com seu instrumento, dando seu toque pessoal de incentivo àquela grande alegria.

Novamente, a Sinfonia dos Campos de Pinheiros se fazia ouvir aos quilômetros de distância.

Ao breve outono da esperança, seguia-se o feroz verão da reconquista.

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