5 de janeiro de 2012

Uma balada de primavera – Segunda parte - Um invernal verão de sentimentos


Tudo começou na estação das flores e nela terminou. 
Termina-se a primavera. Nasce o inverno.
Tudo era de uma certeza férrea. Estava acabado, não haveria mais volta.
As notas ainda ecoavam tristemente pelo auditório abandonado. Eram apenas elas que o mantinha em pé.
Aproximavam-se terrivelmente do seu fim, do momento em que a última nota soaria, reverberaria e então se perderia para sempre naquele palco esquecido que antes abarcara gigantesca alegria. Assim que isso se desse por realizado, toda a estrutura ruiria, tudo o que tinha sido construído pelos corações, maestro e maestrina, com sua música perfeita, seria levado abaixo. O que mantinha tudo em pé era o amor, e esse amor chegava próximo do seu fim.
Os tolos podem pensar: “Como assim, música perfeita? Nada é perfeito neste mundo!”.
Ah, realmente tolos são aqueles que acreditam em tais frases! A perfeição pode nascer da imperfeição, mas apenas quando seus genitores são assim, no plural. Manter aquele lugar em pé dependia de apenas duas pessoas: o maestro e a maestrina, ninguém mais.
Foi com o fraquejar de um deles que a primavera de sentimentos enfim teve o seu fim, dando lugar ao tão terrível inverno de sentimentos.
O maestro abandonou a música, jogou sua batuta no chão, correu do anfiteatro. A maestrina, pega de surpresa, tentou manter a música, chamar seu amado de volta, mas ele tinha ido embora, levando consigo um grande pedaço de si.
Seu coração não era mais o mesmo, não podia mais bater. Ainda assim, não podia se deixar deitar e morrer.
Sangue transbordava de suas feridas. Instrumentos desafinaram, cordas estouraram, metais enferrujaram, peles se rasgaram. Finalmente, a batuta da maestrina se quebrou e ela foi ao chão.
Lágrimas brotaram com intensidade, encharcando as tábuas do palco, manchando-o irreversivelmente.
O maestro correu cada vez mais para longe do amado teatro tão duramente construído, tentando esquecê-lo, fazendo-se acreditar que ele era passado, que aquela estrutura grandiosa não era essencial para a sua vida.
Em sua fúria de fuga, mal percebeu que faltava-lhe metade do coração.
O sangue escorria por suas entranhas, mas a febre de outros sentimentos tomava seu corpo e, assim, mergulhava seus órgãos em um torpor que não o permitia sentir a dor que invariavelmente uma hora o abraçaria com intensidade.
E assim, eles seguiram suas vidas.
Ou tentaram.
A maestrina chorou e chorou e, quando todos os instrumentos já estavam inutilizáveis, por mais que ela tentasse voltar a regê-los, abandonou também o seu querido teatro, desejando nunca mais voltar ali.
O maestro sorriu. Sorriu e brincou, e imaginou construir outro teatro. A música imaginada para gerar tal construção, segundo ele, seria mais séria, mais sóbria, mais madura, e, assim, muito mais resistente.
A música que abandonara era mágica, e foi isso que proporcionou tal espetáculo de arquitetura que era o antigo e agora fantasmagórico teatro que dividira com sua maestrina.
O maestro disse que não, que aquilo era passado. Sua mente recusava-se a escutar seu coração, que sabia de toda a verdade. Ao deixar de se comunicar com o coração, a mente deixou de perceber que seus instrumentos haviam sido deixados no teatro e estavam quebrados, que os sentimentos estavam desafinados, que o coração estava sofrendo. O coração sabia a verdade, sabia por quem queria tocar sua música, com quem, para quem. Mas a mente não escutou, não escutou que, quando o teatro desabasse, soterraria com ele todos os seus instrumentos sentimentais.
Enquanto isso, a maestrina sofreu.
O maestro sofreu.
Mas imaginava que não sofria.

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