17 de agosto de 2010

A dança das estátuas

Um dia eu estava vendo televisão em um domingo monótono (como geralmente são os domingos) e me impressionei com uma reportagem “Fantástica” (pã, pã, pã, pã nã.... Pã!)

Eles pegaram um daqueles caras que trabalham como estátuas humanas e o colocaram no meio do povão para assistir ao jogo do Brasil das oitavas da final da copa do mundo (eu acho ^^), e o desafiaram a ficar parado durante todo o jogo, inclusive o intervalo.

Meu, são noventa minutos, fora os acréscimos e a pausa de uns quinze minutos entre um tempo e outro. Eu não conseguiria.

Essas pessoas ganham a vida na inércia de sua falta de movimento, sustentam-se na imobilidade, movimentam-se em sua quietude. São dos mais variados: anjos, robôs, estátuas de bronze e de prata, Elvises e monstros.

Gosto dos anjos, ele são os mais espertos. Ficar parado durante um bom tempo, tudo bem, pode-se treinar isso, mas... e piscar? Você fica horas sem piscar? Nem mesmo minutos nós conseguimos! Por isso os anjos são espertos: eles fecham os olhos. Assim eles entram mais ainda na personagem. Olhos fechado ajudam a passar tranqüilidade, a aparência fica mais angelical.

Está vendo? Todos tem truques.

Existem também um outro tipo de estátuas. São as estátuas de verdade, de bronze, mármore, pedra sabão etc. Possuem os mais variados tamanhos, forma, posições e expressões. Exalam sentimentos e eternizam um movimento. Não mudam. Ainda assim, transformam-se. Cada um as enxerga de um jeito, analisa suas formas e curvas à sua própria maneira. Mesmo estando condenadas à imobilidade eterna, essas estátuas vivem.

Observe atentamente a face de uma estátua. Não vê em seus olhos a alma de seu criador?

Necessitam de outros para que vejam novas paisagens, respirem novos ares, porém, nunca abandonam seu objetivo: ficarem imóveis.

Passemos agora a um terceiro grupo de estátuas. Eu as denominaria de “estátuas vivas”. Não confunda esse grupo com o primeiro: são totalmente diferentes.

Essas estátuas estão vivas sim, mas eu não diria que elas vivem. Elas sobrevivem.*

Podem ser qualquer um, até mesmo eu ou você, só que eu não acredito nisso. Eu estou aqui, escrevendo, e você está ai, lendo, e isso prova que não nos encaixamos nesse grupo.

Elas passam a existência sem um rumo certo, não possuem um objetivo. Vagam por caminhos tortuosos que, na realidade, possuem apenas uma curva.

Cansam-se de voltar sempre ao mesmo ponto, entretanto, em sua ignorância, afirmam que tal caminho é diferente, nunca passaram por ali.

Perdem-se nas avenidas da vida. Entremeiam-se nas paredes labirínticas do ser. O “não ser” toma conta de seus seres, usando sombras para iluminar seus caminhos.** Olham para a escuridão e acreditam que ela é Luz. Dentro de si, nem um vagalume luminesce.

Cruzam com centenas de almas iguais a si e se perguntam porque os espelhos as perseguem. Sombras refletem-se por todos os lado, criando emaranhados que grudam no corpo e perseguem o espírito.

Um ponto ao longe mostra-lhes o caminho e elas o ignoram uma, duas, três vezes. Quando tal desaparece, perguntam-se se ficaram cegas. Cegas não. Loucas, talvez.

Afundam-se no lodo de suas emoções e lá ficam, vivas, cada vez mais imóveis.

Ao fim, param de se mexer. Mas não morrem. Condenaram-se às sombras e lá ficarão eternamente, até que um novo ponto apareça e convença-as de que, na imutabilidade das trevas, não há Luz.

*Saiba mais no texto “Vivendo ou Sobrevivendo”, neste blog!

**Saiba mais no texto “Sombra e escuridão”, neste blog!

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