25 de março de 2011

Seria coragem ou covardia?

Quantas vezes eu não tinha imaginado esse momento?
Não exatamente o lugar, a hora e tudo isso, mas a ação que eu estava prestes a realizar.
Foram muitas vezes também que eu me perguntei: Porque eu faria isso? Os motivos eram muitos, mas, em geral, a minha vida era o motivo.
Eu sempre ria quando pensava na lógica dessa ideia: o motivo para acabar com a vida era a própria vida.
Era suicídio, eu sabia, mas não meu. Quem assinou seu suicídio muito antes daquele momento foi a minha vida ao ser do jeito que ela era. Foi ela que me obrigou, pelo modo que se conduziu, a acabar com ela. Bem, pretender acabar com ela, pois eu ainda não havia consumado o ato. O que eu queria era só por um fim no sofrimento.
Eu sabia, também, que esse pensamento era totalmente ilógico, mas ele me acalmava um pouco, porque, no fundo, eu sabia que assim eu tentava colocar a culpa do que eu queria e ia fazer em algo que nem mesmo existia por si só, assim ela também não poderia reclamar. Muito mais fácil.
Sacudi a cabeça. Se ficasse pensando nos motivos nunca realizaria esse "feito". Talvez isso fosse a maior coisa que eu faria na vida. Pelo menos disso eles lembrariam, isso com certeza não seria esquecido. Minha mãe, meu pai, todos aqueles que um dia me esqueceram, e até os que não me conheceram, lembrariam daquele feito.
Talvez se lembrassem, na verdade. Eu não ia fazer nada demais. Não tinha coragem de atentar contra a vida de outras pessoas. Realmente, os que não me conheciam lembrariam por no máximo um mês, e só aqueles que assistissem canais sensacionalistas. O que importava mesmo era que meus pais se lembrassem eternamente e se culpassem pela indiferença com que me trataram por toda a porcaria da minha vida.
Às vezes eu não achava justo castigá-los com a minha morte, mas não por eles, e sim por mim. Eles mereciam, eu não. Mas também eu estava tão cansada de viver. Não era só em casa, mas em todo lugar. As coisas sempre pareciam acontecer apenas comigo.
Era sempre eu que me machucava, eu que ficava doente, eu que, com duas décadas de vida tinha umas cinco ou seis cirurgias, as relações com o outro sexo sempre difíceis, me deixando com muito mais cicatrizes internas do que as externas que eu tinha.
Era disso que eu fugia.
De toda a dor que eu havia passado, do sofrimento, da angústia, das perdas, das lágrimas derramadas, do coração despedaçado, dele...
Eu não falara da minha decisão para ninguém, não deixara carta ou algo parecido.
Minha mensagem de despedida seria o meu corpo. Ou o que restasse dele.
Estiquei um pé para a frente, apoiando-o no vazio. Tirei uma foto do bolso e dei uma última olhada. Seus olhos eram lindos. Negros e lindos. O vento forte sacudiu o papel com força e o arrancou da minha mão. Eu o deixei ir... da minha vida para sempre. Até porque, mais um pouco e não haveria mais vida.
Fechei os olhos e me preparei para um último (e raro) momento de diversão, a queda livre, antes que eu nunca mais pudesse me divertir... ou sofrer.
Meu coração acelerado parecia tentar compensar todas as batidas que nunca aconteceriam.
Respireir fundo antes de inclinar meu corpo no vazio.

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