18 de junho de 2011

Um conto da madrugada


Acordei sobressaltada. Minha mente despertou de repente, no susto. O silêncio retumbava nos meus ouvidos e era o único sentido que parecia funcionar, ainda que nada captasse. Fiquei meio desorientada no começo: porque eu não via nada. Só então percebi que, no susto no qual acordei, havia esquecido de abrir os olhos.
Assim como os ouvidos, eles nada captavam.
Sentei na cama, amaldiçoando o ranger da madeira fria. Percebi que meu cobertor havia caído da cama, motivo pelo qual minha pele se arrepiava tanto. Mas não era o único.
Não sabia o que havia me acordado, mas sabia que aquele silêncio que eu ouvia agora não havia estado ali nos últimos instantes. Sabia porque aquele arrepio que continuava a percorrer o meu corpo me avisava que algo estava errado.
Tentei captar algo pelo quarto, mas estava tudo muito escuro. A porta estava fechada e nenhuma fonte de luz estava presente. Peguei meu celular na mesa de cabeceira e acendi-o. A luz cegou-me temporariamente. Pisquei com força até meus olhos se acostumarem. Na mesma hora, imaginando como alguém me enxergaria, lembrei-me de histórias de terror contadas em acampamentos. A luz me iluminava de cima para baixo, assim como faziam os que contavam. Meu coração acelerou e eu desviei a luz para o resto do quarto.
Vasculhei rapidamente tudo, mas não havia nada de errado ali. Ali não. O silencio continuava a oprimir meus ouvidos, me incomodando. Não havia barulho na rua? Nem um carro passava. No celular, o relógio marcava três horas da manhã.
Levantei o mais devagar que pude da cama, mas ela voltou a ranger quando aliviou-se do meu peso. Xinguei mentalmente, meus instintos me dizendo que aquele som não devia ser feito.
Andei na ponta dos pés até a porta do quarto e a abri. Pelo menos esta não rangeu.
A luz da lua entrava macabramente por entre as cortinas da janela da sala. Uma luz amarela como os postes da rua.
As cortinas se mexeram suavemente, balançadas por uma brisa que chegou até mim, e revelou uma imensa lua que brilhava baixo no céu, parecendo exalar uma luz suja.
Mas... de onde havia vindo aquela brisa?
Sai do quarto e olhei ao redor da sala. Na parede oposta a da janela, a porta estava aberta. Um palmo separava-a do batente, a chave ainda na porta. Meu coração, que já estava acelerado, começou a bater como se tivesse uma só batida. Eu o ouvia nos meus tímpanos, atrapalhando a audição que ainda nada captava.
Fui correndo até a porta, deixando o celular pelo caminho em cima da mesa, e abri-a violentamente.
Nada.
Olhei no corredor, forçando meus olhos. Apertei o botão para acender a luz. Apertei-o de novo e de novo, mas nada aconteceu. Maravilha, sem luz.
Fechei a porta e a chave balançou suavemente. Girei-a duas vezes e testei a luz da sala, que também não funcionou. E o meu sangue gelou.
Girei rapidamente no mesmo lugar, movida nem pela audição nem pela visão, mas apenas pela intuição. Algo parecido com um vulto entrou no meu quarto correndo. Eu sentia meus olhos arregalados e a boca aberta que não conseguia puxar ar suficiente para eu respirar.
A porta estava fechada! Pelo menos deveria estar.
Fui andando de lado pela sala para poder ver a porta, e ela estava realmente aberta. Mas como?
Meu corpo inteiro tremia quando fui andando lentamente, sem saber realmente porque andava, na direção do quarto. Parei no umbral da porta, sem coragem suficiente para entrar. Fechei os olhos e respirei o mais fundo que pude, e dei o primeiro passo. Ou tentei.
A porta se fechou com força, fazendo um barulho muito alto. Pulei para trás com um grito, meu coração ainda mais disparado do que antes, e bati em algo que era mais mole do que a parede.
Gritei novamente e comecei a correr para porta, mas algo pegou meu pé e eu caí com força, meu rosto se chocando com o chão. Senti meu nariz quebrando e o sangue quente escorrendo.
Girei o olhei para o que havia me pegado. Escondido nas sombras vi um par de olhos sem corpo que me observavam. Mais abaixo, o brilho frio de uma lâmina saindo das sombras. Puxei fôlego para gritar novamente, mas antes que eu percebesse, algo tapou a minha boca.
Os olhos vermelhos me encararam, sem pupila, sem íris, sem partes brancas. Apenas vermelhos.
Senti a faca entrando entre as minhas costelas, mas não pude gritar. A dor era excruciante. A faca saiu e entrou mais uma dezena de vezes e eu sentia o sangue se espalhando ao meu redor, tendo cada vez menos forças para gritar, cada vez menos vontade.
Por mim, ele levantou a faca e colocou-a na frente dos meus olhos. Ela estava banhada no meu sangue. Minha visão começou a ficar turva e, se eu pudesse, teria vomitado.
O toque frio do aço chegou ao meu pescoço. Ele sorria? Parecia que sim.
Um último movimento.
E eu entrei nas trevas.
Gustavo dos Reis

3 comentários:

Amanda Bortoletto disse...

muito bom, amor!

Anônimo disse...

Nossa!!!
Muito, muito bom!!!!
Vc realmente escreve bem! Não consegui desgrudra os olhos da tela...
Vou visitar sempre!!!
Parabéns,
Amanda Marchini

Gustavo R. Fragazi disse...

hey! obrigado mesmo pelo comentário! pode voltar sempre que quiser ;D

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